quinta-feira, 30 de abril de 2015

Do fundo do Baú-matéria aobre Rita Lee-29/04/1997



 



Cantora receberá prêmio Sharp de Artista do Ano

Agência Folha
De São Paulo

A cantora Rita Lee, 49, está sendo homenageada em dois lugares. Em Los Angeles (EUA), ela finaliza seu novo disco, "Santa Rita de Sampa", que Rita define como uma "homenagem a si mesma", e que deve ser lançado no segundo semestre, quando também fará shows pelo Brasil.
Além disso, Rita Lee foi a primeira cantora a ganhar, em novembro passado, o Prêmio Shell, que já teve 15 edições anteriores. Este ano, receberá um outro prêmio: o Sharp de Artista do Ano, atribuído ao conjunto de sua obra.

O show do Prêmio Sharp será no dia 7 de maio, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, e além de Rita Lee e Roberto de Carvalho, também contará com a presença de Fernanda Abreu, Joyce, Raimundos, Zélia Duncan, Gilberto Gil e Caetano Veloso.

Feliz da vida, Rita comemora: "Todo artista gosta de homenagem", afirmou ela, que viveu um 1996 agitado -teve um acidente grave, quebrou o maxilar, e seu sítio foi roubado. "Levaram tudo, até roupas da época de Mutantes e discos de ouro. Mas foi bom, renasci", disse.

No maxilar, ela ganhou um pino de titânio, que batizou de "Pina Maria Colada" -"o pino nasceu no mesmo dia da Lourdes Maria, filha da Madonna", brincou. Mas, no final do ano, Rita Lee teve motivos para comemorar: casou-se oficialmente com "o homem da sua vida", Roberto de Carvalho, 44, com quem vive há 21 anos e tem três filhos. "Foi bom casar. Nunca tinha casado antes. É um ritual", disse.

Leia a seguir trechos da entrevista com Rita Lee.

Folha de S.Paulo - Você ganhou prêmios de artista do ano em 1996 e 1997 e é presença obrigatória em eventos como o MTV Awards e no Phytoervas Fashion. A que você atribui isso?
Rita Lee - É um milagre. Descobri como estar em três lugares ao mesmo tempo. Não sei, tem acontecido. Minha vida é ponteada de aparições bombásticas, uma hora em uma novela, outra como coadjuvante de um evento principal, eu adoro fazer essas coisas.
Tenho prazer em fazer palhaçada. Eu sou a palhaça que não deu certo e foi fazer música. É uma tática partir para o humor, para debochar do próprio evento. Gosto dessa técnica, sempre dá certo. Tenho uma rebeldia, uma coisa gaiata. Na escola era assim. Preferia ser expulsa da classe a perder a piada. Nunca me achei uma pessoa importante. Desde os Mutantes, sempre fiz parte do backing vocal. Acho que meu talento é para isso.

Folha de S.Paulo - Você está recebendo o prêmio pelo conjunto de sua obra, que inclui a fase Mutantes. Isso te incomoda?
Rita Lee - O vínculo não me incomoda e até me dá um certo orgulho. Eu adorava quando eu estava nos Mutantes. O que me incomoda são as pessoas que querem que os Mutantes voltem. Às vezes tem cobranças de meia dúzia de fanáticos. Bacana, obrigada, também acho Mutantes o máximo, só que já passou, não tenho vontade de voltar a fazer Mutantes, desculpe. O vínculo, o meu jardim da infância, o meu ginásio com Mutantes foi uma delícia. Era uma glória. Mas não tenho vontade de fazer um "revival" como os Novos Baianos fizeram. No nosso caso não dá certo porque os meninos (Arnaldo Baptista e Sérgio Dias) são muito complicados. Eles estão muito fincados no passado. Não é um "revival" leve. Na homenagem aos 50 anos do Gil, propus nos reunirmos para tocarmos "Bat Macumba", que é simples, com dois acordes. Liguei para eles e falei: "Vambora fazer uma homenagem para o mestre, para o guru. Ele que botou a gente nessa". Arnaldo mandou alguém me ligar dizendo que queria R$ 100 mil para subir ao palco.
Fui tentando uma aproximação para limpar carma, mas agora não tenho mais vontade. Com Serginho eu falo o tempo todo por e-mail. É uma pessoa muito boa, delicada, talentosa. Com o Arnaldo o problema é sério. Mas não quero mais.

Folha de S.Paulo - No seu disco novo existe uma parceria na música "Ando Jururu" com os Raimundos, que você considera uma grupo que traz novidades. Mas uma série de bandas novas estão regravando Mutantes. O que você acha disso?
Rita Lee - Acho que eles têm que experimentar de tudo. Acho que começa com o ídolo, o grupo quer imitar o ídolo, mas depois toma-se o rumo das impressões digitais de cada um. Muita gente fala que o Pato Fu fareja os Mutantes. Deixa eles. Tem que dar um tempo para essa meninada. Acho difícil começar agora sem ter influência. É uma coisa de releitura de final de milênio, de reciclagem. Grupos desaparecem. Adoro quando vejo grupo de rock se dissolver. Adorei que o Sepultura brigou, quebrou o pau, que a mulher entrou no meio. Isso é rock'n'roll. (risos)

Folha de S.Paulo - Quem eram os seus ídolos?
Rita Lee - Eram mais cinematográficos que musicais. Fred Astaire, Carmem Miranda, pelo visual dela exagerado. Claro, Elvis Presley na veia, Stones e Beatles na veia, Chuck Berry na veia para chuchu. Sou da época de quem assistiu Jimi Hendrix ao vivo duas vezes. Mas eu não sou saudosista, não. Adoro o som dessa criançada barulhenta que não tem muito o que dizer ainda.

Folha de S.Paulo - Para quem você daria um prêmio?
Rita Lee - Para Dercy Gonçalves, Lamartine Babo, Erasmão e Roberto. Adoro Djavan, Gal, Bethânia. Acho Marina, Marisa Monte, Cassia Eller, Zélia Duncan ótimas. Gosto muito do timbre da Paulinha Toller. Tem umas mulheres bacanas para chuchu.
(Daniela Rocha)


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